Conheça o capitalismo consciente, modelo que promete ganhos maiores para as empresas que fazem a diferença. E aprenda com as histórias de companhias como Whole Foods, Patagonia, Southwest Airlines, Pão de Açúcar e Walmart
O Grupo Pão de Açúcar (GPA) é o maior varejista brasileiro, com receita líquida de R$ 50,9 bilhões. No ano passado, seu lucro foi de R$ 1,1 bilhão, uma alta de 60%. Por qualquer ângulo que se veja é sem dúvida alguma um desempenho excelente, especialmente em um ano em que a economia brasileira cresceu apenas 0,9%. Mas lucro em ascensão e constante seria uma prova definitiva de que uma empresa está no rumo certo? Para um grupo de empresários ao redor do mundo, entre eles o próprio Abilio Diniz, presidente do conselho de administração e principal acionista minoritário do GPA, a resposta é não. “Há algo além do lucro”, afirmou ele à DINHEIRO.
Pregação consciente: Abilio Diniz e o professor Raj Sisodia tentam
convencer as empresas brasileiras a adotarem um modelo
mais responsável de fazer negócios
Diniz, que também acumula o comando do conselho de outro gigante corporativo do País, a BRF, não está renegando um dos pilares do sistema capitalista. Afinal, segundo ele mesmo costuma apregoar, sem lucro, não há empresa. O que Diniz e muitos outros empreendedores estão descobrindo é que a lucratividade, pura e simples, não pode ser o único objetivo de uma companhia. “O empresário precisa ter orgulho do que faz e consciência do que acontece à sua volta”, afirma Diniz. “O propósito das empresas é gerar valor, qualidade de vida e felicidade.” Diniz não está sozinho nessa pregação. Nem é dele um conceito que a cada dia ganha mais adeptos no mundo corporativo.
Trata-se do capitalismo consciente, um movimento liderado pelo guru indiano Rajendra Sisodia, professor de marketing da universidade Bentley, nos Estados Unidos, que esteve, na semana passada, no Brasil, participando de um seminário da Associação Paulista de Supermercados (Apas). Criado nos Estados Unidos, há cerca de seis anos, esse modelo de gestão baseia-se na ideia de que as empresas devem mover-se com uma motivação maior do que a simples busca da lucratividade. “Esse modelo de capitalismo de Wall Street, centrado nas finanças, não tem futuro”, afirma Raj, como é conhecido internacionalmente o professor (leia entrevista exclusiva: "O modelo de Wall Street não tem futuro" ao final da reportagem).
Ditas assim, as palavras de Raj podem soar como se tivessem saído diretamente de um livro de autoajuda de qualidade duvidosa. Na verdade, as ideias desse professor indiano estão ganhando eco em empresas como a Whole Foods, maior varejista de produtos orgânicos do mundo, a Patagonia, que vende roupas esportivas, e a companhia aérea americana Southwest. No Brasil, o conceito ainda é incipiente, mas a filial local do Walmart e o próprio Pão de Açúcar podem ser considerados adeptos dessa nova onda do capitalismo. O paradoxo do capitalismo consciente é que, ao não visarem exclusivamente ganhar dinheiro, as companhias que o seguem têm um desempenho melhor do que seus pares que não o adotam.
De acordo com uma pesquisa feita pelo guru Raj, de 128 empresas americanas que colocaram em seu dia a dia os preceitos de sua filosofia de gestão, mais da metade delas (77) teve suas ações valorizadas acima da média das bolsas dos Estados Unidos em que eram cotadas. É o caso da Whole Foods. Criada na década de 1980, a empresa especializou-se em vender produtos naturais e orgânicos. No ano passado, a varejista, que atua nos Estados Unidos, no Canadá e na Inglaterra, faturou US$ 11,7 bilhões, quase 50% mais do que em 2008. Suas ações nesse período valorizaram-se 248%. A evolução do índice Nasdaq, onde são negociadas, foi de apenas 35%. Em cinco anos, seu lucro cresceu mais de quatro vezes, atingindo US$ 465,6 milhões em 2012.
Esse desempenho excepcional aconteceu justamente em meio a uma das mais graves crises econômicas mundiais, que afetou, principalmente, os mercados americano e europeu, bases de suas operações. Detalhe: a Whole Foods alcançou esse resultado sem cortar custos, demitir funcionários ou adotar práticas ultracompetitivas de gestão para pressionar seus executivos. “Pode não ser intuitivo, mas a melhor forma de aumentar os lucros é não fazer disso o principal objetivo do negócio”, afirma John Mackey, fundador da Whole Foods, em um manifesto a favor do capitalismo consciente. “Todo profissional tem um propósito. Por que as empresas não podem fazer o mesmo?” O objetivo da Whole Foods, por exemplo, não é meramente vender produtos orgânicos. Mas sim, saúde. Isso mesmo.
Seu propósito é ensinar os consumidores a se alimentarem de forma mais saudável para ter uma vida melhor. Além disso, a rede varejista não se abastece com grandes fornecedores para conseguir preços menores. Suas 350 lojas são supridas por pequenos agricultores das redondezas dos locais nas quais estão instaladas. Trata-se de uma prática sustentável. Mas não confunda o conceito de capitalismo consciente com o de sustentabilidade. É fácil de entender a diferença quando se conhece a história da Patagonia, fabricante californiana de roupas para esportes de aventura, considerada um dos principais exemplos do conceito. Em 2011, a grife publicou um anúncio no jornal The New York Times, em plena Black Friday – o dia que dá início à temporada de compras de fim de ano nos EUA –, pedindo aos consumidores para não comprarem seus produtos.
É como se pedíssemos para que os leitores parassem de ler esta reportagem a partir deste ponto. A peça publicitária, no entanto, não era mera retórica de algum gênio do marketing. O fundador da Patagonia, o alpinista Yvon Chouinard, acredita, de verdade, que vendendo produtos de alta durabilidade seus clientes não precisarão comprar roupas por um bom tempo. A tática pode parecer um tiro no pé, mas os números comprovam que Chouinard não está errado. O faturamento da empresa foi de US$ 540 milhões no ano passado, 30% maior do que em 2011. É claro também que a Patagonia tem uma pegada sustentável. Ela utiliza apenas algodão orgânico para produzir suas roupas. Todo ano, destina 1% de sua receita ou 10% do lucro, o que for maior, para grupos de proteção do meio ambiente. O estilo de gestão de Chouinard também é único.
Seu método é o de administrar pela ausência. “Odeio quando alguém me fala o que devo fazer; então, não consigo fazer isso com os outros”, afirmou Chouinard, em entrevista à revista americana Inc. “Sempre contrato pessoas que são boas no que fazem e apenas as deixo trabalhar sozinhas.” Eis aí outro pilar do capitalismo consciente: desenvolver uma relação de confiança entre os membros de sua equipe (leia mais no quadro "Manifesto"). Essa é uma das especialidades da Southwest Airlines. A companhia aérea, com sede em Dallas, celebrou no ano passado seu 40º ano seguido de lucro, ao registrar ganhos de US$ 421 milhões, mais do que o dobro do obtido em 2011. Nada mal para uma empresa que atua em um setor que enfrentou sérias dificuldades nos últimos anos. Gigantes desse mercado, como American Airlines e Delta, chegaram a entrar em recuperação judicial.
A força da Southwest está em seus funcionários. Ela é conhecida por ter os empregados mais engajados do mercado. Consegue esse comprometimento ao inverter uma tradicional regra do marketing. Para ela, os funcionários vêm em primeiro lugar – os clientes, é claro, estão logo em seguida nessa fila. Essa receita se reflete nos seus números operacionais. A pontualidade dos voos beira os 85%. “É só ficar fora do caminho”, afirmou Herb Kelleher, 82 anos, um dos fundadores da Southwest e ex-CEO da companhia, ao explicar como motivar a equipe. “O conceito é simples, mas a execução é demorada. É preciso mostrar que eles são tão importantes para a empresa quanto a empresa é para eles. Mas não se trata de um trabalho que você faz por seis meses e dá por finalizado. É uma tarefa diária.”
CONSCIÊNCIA À BRASILEIRA O conceito de capitalismo consciente ainda engatinha no País. Em sua passagem pelo Brasil, o guru indiano Raj não apenas falou para uma plateia de empresários do setor varejista. Ele também visitou empresas. Uma delas foi a fabricante de cosméticos Natura, na terça-feira 7. Ele se encontrou com Diniz na sexta-feira 10, em evento na casa do empresário, no bairro do Jardim América, em São Paulo. Na ocasião, o anfitrião reuniu um seleto grupo de lideranças locais para ouvir as ideias do professor indiano. Diniz conhece Raj desde 2010. Há dois anos, trouxe-o a São Paulo para um encontro com 400 funcionários do Pão de Açúcar, incluindo diretores e gerentes.
Abaixo a ganância: o movimento Occupy Wall Street, criado em 2011, protestava contra o famoso 1%
que vivia à custa de 99% de excluídos na sociedade
“As empresas são agentes socioeconômicos, com responsabilidades e deveres”, afirma Enéas Pestana, presidente do grupo. “Por isso, devem incluir entre seus objetivos estratégicos o de contribuir para uma sociedade melhor.” Ainda que lentamente, o conceito começa a fisgar mais companhias por aqui. A subsidiária brasileira do Walmart é uma delas. Em 2010, a rede de supermercados lançou um programa que incentiva os fornecedores a desenvolverem produtos e métodos de produção mais eficientes. A ideia foi utilizar o poder de compra do Walmart, um colosso que fatura R$ 25,9 bilhões e vende mais de 60 mil produtos no Brasil, oferecendo em troca maior valorização das novas mercadorias em suas gôndolas.
Nos últimos três anos, 21 fornecedores lançaram 23 produtos alinhados às exigências do programa. Um dos casos mais bem-sucedidos foi o do curativo Band-Aid, da americana Johnson & Johnson, que passou a ser vendido em uma embalagem 18% menor e com 30% de material reciclado. “Buscamos fomentar uma nova maneira de pensar a cadeia de consumo, com produtos que tragam benefícios ao consumidor, ao negócio, aos parceiros e ao planeta”, afirma Marcos Samaha, presidente do Walmart. Espécie de reengenharia do bem, o capitalismo consciente começou a ganhar força a partir de 2008, na esteira da crise financeira global.
Em especial, com o movimento Occupy Wall Street, criado em 2011, que protestava contra a desigualdade econômica, a ganância e o poder das empresas, sobretudo do setor financeiro – o famoso 1% que vivia à custa de 99% de excluídos na sociedade. No mundo atual, a filosofia de vida de Gordon Gekko, personagem protagonizado pelo ator Michael Douglas no filme Wall Street – Poder e Cobiça, de 1987, não é mais celebrada como no passado – o próprio Gekko, em novo filme, de 2010, já não acredita em sua frase de que “a cobiça é boa”. “As empresas que ainda não perceberam isso podem até parecer grandes e fortes”, diz Raj. “Mas vale lembrar que os dinossauros também eram grandes e fortes e acabaram extintos.” E aí, sua empresa vai ficar de fora dessa nova onda do capitalismo?
“O modelo de Wall Street não tem futuro”
Comércio eletrônico ganha regras
O comércio eletrônico passa a ter regras mais claras e rígidas, a partir desta terça-feira (14), com a entrada em vigor do Decreto Federal 7.962/13.
As medidas foram anunciadas pela presidente Dilma Rousseff em 15 de março, Dia Mundial do Consumidor. O comércio eletrônico brasileiro não possui uma legislação exclusiva, e as novas medidas devem preencher lacunas deixadas pelo Código de Defesa do Consumidor em relação ao comércio virtual.
Uma das novas regras estabelece que as empresas que vendem pela internet devem divulgar, em lugar de fácil visualização e de forma clara e objetiva, informações básicas sobre a companhia --como nome, endereço e CPNJ, ou CPF, quando a venda for feita por pessoa física.
Também deverão oferecer um canal de atendimento ao consumidor que facilite o envio de reclamações, questionamentos sobre contratos ou dúvidas sobre o produto ou serviço adquirido.
No caso de sites de compra coletiva, será preciso, por exemplo, informar a quantidade mínima de clientes para conseguir benefícios como preços promocionais.
Além disso, as empresas de comércio eletrônico serão obrigadas a respeitar direitos do consumidor, como o de se arrepender da compra no prazo de até sete dias úteis, sem a necessidade de apresentar qualquer justificativa. Nesses casos, a obrigação pela retirada do produto na casa do consumidor e o estorno do valor pago ficam a cargo da empresa que o vendeu.
Lista de produtos essenciais não sai
Um dos principais pontos anunciados pela presidente ainda está parado: a criação de uma lista de produtos essenciais. Qualquer problema verificado pelo consumidor em produtos incluídos nessa lista, desde que estejam na garantia, terá que ser solucionado imediatamente pelo fornecedor.
Essa lista deveria ter sido elaborada, em até 30 dias, pela Câmara Nacional de Relações de Consumo, integrada pelos ministros da Justiça, da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, do Planejamento e da Casa Civil da Presidência da República.
(Com Agência Brasil e Reuters)
Europa vende tudo
Governos fazem leilão de vinhos, estátuas, ilhas e outros tesouros. É horaNo Velho Mundo em crise, o luxo está mudando de mãos. O recente anúncio do leilão de vinhos da adega presidencial francesa, nos dias 30 e 31 de maio deixou eufóricos donos de restaurantes, enólogos e qualquer amante da bebida com euros sobrando na carteira. Pudera. Entre os rótulos, estão os prestigiados Château Petrus 1990 (o mais caro, € 2,2 mil), Lafite 1975 (€ 800) e outros mais em conta, como o Château Laville Haut-Brion 1966, cujo preço deve ficar em € 200. O assunto, no entanto, jogou luz sobre a política de austeridade que toma conta dos governos europeus. A maioria deles criou programas de vendas de ativos, como prédios, palácios, ilhas, vinhos e até cachoeiras, para fazer caixa.
Pechincha: na montagem, François Hollande, presidente da França, e uma garrafa
de Petrus, da adega do Palácio Eliseu
Na França, o presidente François Hollande espera arrecadar cerca de € 250 mil com a venda, dinheiro que servirá para reformar o Palácio do Eliseu e, se sobrar algum, ajudar no cofre do Estado. “São vinhos usados em jantares e recepções da Presidência”, explicou um porta-voz da casa de leilões Drouot, responsável pelo pregão, à agência de notícias Reuters. A quantia equivale a apenas 10% da adega privada do palácio presidencial, de 12 mil garrafas, que foi criada em 1947. Elas serão substituídas por vinhos mais baratos. O especialista Arthur de Azevedo, diretor da Associação Brasileira de Sommeliers, conta que as garrafas que estão para arremate são grandes vinhos de Bordeaux e da Borgonha, que normalmente alcançam preços elevados em leilões de todo o mundo, principalmente no mercado asiático, como China, e nos Emirados Árabes.
Obra de arte: estátua do artista inglês Henry Moore será leiloada para ajudar subúrbio londrino
“Não há especificamente um dano ao patrimônio francês, porque todos os vinhos que irão para leilão não são espécies raras”, diz. A ação ajuda também a reforçar a figura não elitista de Hollande, que faz questão de desvincular a sua imagem do luxo e de excessos. A ideia não chega a ser nova. Em março deste ano, o governo britânico leiloou um lote de vinhos de sua adega no valor de € 59 mil, com garrafas de Château Petrus 1970 (€ 1,18 mil cada) e Le Pin 1986 (€ 944 cada). O intuito era racionalizar os vinhos da adega do governo, de 38 mil rótulos, maior do que a existente na França. Ainda na Inglaterra, no distrito de Tower Hamlets, na região de Londres, a estátua Draped Seated Woman (“mulher drapeada sentada”, em inglês), criada pelo escultor britânico Henry Moore, deve ser leiloada em breve por €23,6 milhões, para arrecadar fundos ao bairro, um dos mais pobres do subúrbio londrino.
A crise afetou também os negócios da família real, fazendo com que o príncipe Charles anunciasse o fechamento de sua loja de produtos orgânicos, The Veg Shed, na quarta-feira 8, devido à queda nas vendas. “Esta foi uma decisão difícil de ser tomada por nós e gostaríamos de pedir desculpas pelo inconveniente que isso vai causar”, disse Charles em comunicado. A venda agora será feita só pela internet. Outros governos do continente têm apertado bem mais o cinto. Na Espanha, em Barcelona, a administração catalã colocou em uma tacada só 18 prédios públicos à venda ou para arrendamento por, no mínimo, 20 anos. Treze deles ainda estão ocupados por repartições do governo e são oferecidos num pacotaço por € 162,6 milhões. Na Grécia, o menu é mais variado. Pequenas ilhas nos arredores de Mykonos têm atraído a cobiça de multimilionários.
Paraíso particular: na Grécia, vendas do governo incluem ilhas, hotel, mansões
e até nascentes de águas termais
Os maiores investidores, segundo o jornal inglês The Guardian, são os russos e os chineses, que desembolsaram, só neste ano, até € 15 milhões por ilhas com mais de mil hectares. Para facilitar o trabalho deles, o Fundo para Desenvolvimento de Ativos da República Grega tem em sua página na internet uma lista com tudo o que está à venda. Vai de imensos terrenos pé na areia e resorts de luxo a fontes termais e nascentes com propriedades medicinais, muito populares no país. No começo de abril passado, uma das cerejas desse bolo grego foi vendida por €25,9 milhões. Tratava-se da casa do cônsul da Grécia em Londres, um prédio de três andares e nove quartos, com vista para o Holland Park, entre os bairros de Kensington e Chelsea. Em estilo vitoriano, a mansão foi comprada por um bilionário anônimo. Mas essa fortuna sequer aterrisou em Atenas: foi parar direto na conta dos credores da economia grega – FMI, Banco Central Europeu e União Europeia.
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