sábado, 17 de setembro de 2011

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O velho e bom PC perdeu mercado para os notebooks e tablets, mas ainda gera lucros em segmentos que exigem alto desempenho

Por Rodrigo CAETANO

Já faz algum tempo que o computador de mesa — ou desktop, como é conhecido pelos profissionais da área — é visto como o patinho feio do mercado de tecnologia. Afinal, a praticidade proporcionada pelos notebooks e, principalmente, pelos tablets está no centro das atenções dos consumidores atualmente. E já se tornaram majoritários no mercado: no segundo trimestre deste ano, os notebooks foram responsáveis por 51,5% das vendas do setor no Brasil, ante 48,5% dos desktops, segundo pesquisa feita pela consultoria IDC, especializada em tecnologia. Até poucos anos atrás, os equipamentos de mesa reinavam folgadamente no mercado. Com o avanço cada vez mais rápido dos computadores portáteis, dá para imaginar que eles sejam varridos do mapa, certo? Sim e não. Se pensarmos no computador como produto de massa, a sua morte é iminente, é verdade. Mas há alguns nichos nos quais esse bom e velho aparelho encontra guarida. E lucros. É o caso das áreas de finanças e de games, nas quais a demanda pelo desktop está alta – e assim deve continuar pelos próximos anos.

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Clientes corporativos: a First Place, de Paulo Seabra, vende as máquinas para empresas do setor de finanças e videogames

Esse interesse vem estimulando a criação de empresas especializadas na fabricação das máquinas dotadas de monitor e CPU. São companhias, como a paulista First Place e a carioca Mad PC, que estão lucrando com a venda para clientes que não se importam em pagar até mais de R$ 10 mil em um computador, desde que ele tenha as características adequadas para o seu negócio. Essas companhias apostam em um modelo que remete aos primórdios do computador pessoal, quando era comum as pessoas comprarem as peças e “montarem” suas próprias máquinas. Todas as vendas são feitas diretamente, seja pela internet, seja por telefone, e quem escolhe os componentes são os clientes. Dessa forma, é possível oferecer um leque maior de opções, como placas de vídeo profissionais, alta capacidade de armazenamento e os processadores mais potentes do mercado. “O diferencial de trabalhar assim é a agilidade”, afirma Paulo Seabra, fundador da First Place.

Criada em 2004, em São Paulo, a empresa vende 350 máquinas por mês. A mais barata do portfólio custa por volta de R$ 3 mil, e a mais cara ultrapassa os R$ 10 mil. Um aspecto importante desse negócio é que quase todos os compradores fazem adaptações no produto, conforme suas necessidades. “Nosso cliente é o usuário avançado de PC”, diz o empresário. “Isso me permite vender máquinas com tíquete médio mais elevado.” Por trabalharem quase que exclusivamente por encomenda, essas chamadas butiques de computação oferecem o que as fabricantes tradicionais, que atuam por meio de linhas de produção, não conseguem. “Tenho clientes no mercado financeiro que querem ligar até seis monitores em uma máquina”, afirma Igor Belchior, um dos sócios da Mad PC. Fundada em 2008, no Rio de Janeiro, a companhia comercializa, em média, 30 equipamentos por mês. Os amantes dos games representam a maior parte dos clientes. “Os componentes de alto desempenho não existem nos produtos feitos em linhas de montagem”, diz Belchior. Essa característica, aliás, é o que leva empresas do porte das fabricantes de chips Intel e Nvidia a prestar atenção a esse segmento.
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Isso porque as butiques são um importante canal de venda para os produtos top de linha dessas companhias. “O valor dos desktops está aumentando”, afirma Christian Zaharic, diretor de marketing da Nvidia. Em alguns casos, uma placa de vídeo potente chega a custar mais de R$ 2 mil, valor superior ao da maioria dos notebooks. Segundo Zaharic, o surgimento de empresas especializadas em máquinas de alto desempenho mostra o amadurecimento do mercado nacional, o que é corroborado pelos dados do setor. De acordo com o IDC, o Brasil ultrapassou o Japão e se tornou o terceiro maior país em vendas de computadores, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, no segundo trimestre. Nesse cenário, o segmento de desktop é o mais estável e rentável da computação em função das vendas para as empresas. “É verdade que as vendas de notebooks crescem em ritmo mais acelerado, mas ainda vejo uma grande demanda pelos desktops”, afirma o vice-presidente da Intel, Mooly Eden. A diferença é que, tratando-se de computador de mesa, o mercado corporativo é responsável por 70% das vendas. “Já no caso dos notebooks, o mercado doméstico predomina”, diz.

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