A matriz da grife italiana incorpora parte da operação brasileira e redefine suas estratégias no mercado de luxo.
Por Hugo CILO
O estilista e empresário italiano Giorgio Armani, 77 anos, dono de uma fortuna pessoal avaliada pela revista americana Forbes em US$ 7 bilhões, construiu um dos maiores impérios do mundo da moda nas últimas décadas. A grife que leva seu nome atua em 50 países, com dez marcas, mais de 550 lojas e faturamento que chegou a quase US$ 2 bilhões no ano passado. Todo esse sucesso de Armani não aconteceu por acaso. Sua reputação foi lapidada ao longo do tempo graças ao estilo clean de suas coleções, que valorizam a simplicidade e a leveza dos detalhes – dentro do conceito “menos é mais”. Já no campo dos negócios, a ideia é oposta. Para Armani, mais é mais quando se trata de expandir sua rede pelo mundo, buscando alternativas à queda do consumo nos mercados tradicionais. É o que está acontecendo no Brasil.
Giorgio Armani: com estilo único no design e nos negócios, o dono
de uma das grifes mais tradicionais da Itália resiste em vender sua marca.
Depois de quase um ano de negociações com seus franqueados no País, os empresários Patrícia Gaia, André Brett e Michelle Nasser, Armani incorporou, no fim do primeiro trimestre, duas de suas três marcas no mercado local: a Giorgio Armani, com uma unidade em São Paulo, e a Emporio Armani, com loja também na capital paulista, uma em Brasília e outra no Rio de Janeiro. O plano da Armani, ao que tudo indica, é focar suas estratégias no nicho do luxo. Isso porque as oito lojas da Armani Exchange, a linha mais jovem e que trabalha com produtos mais acessíveis do grupo (com tíquete médio de R$ 500 a R$ 600), continuam nas mãos dos representantes brasileiros. Já os produtos das lojas Emporio Armani custam, em média, o dobro dos artigos da Armani Exchange, enquanto os da Giorgio Armani são quatro vezes mais caros.
Várias marcas, um só nome: o grupo Armani, com mais de 550 lojas
e US$ 2 bilhões de faturamento, aposta na expansão do luxo no País.
“A operação da Armani no Brasil é muito significativa dentro do grupo e apresenta hoje uma gigantesca oportunidade de crescimento”, diz a CEO da Armani Exchange no Brasil, Patrícia Gaia. “Além de ser um mercado em visível expansão, o estilo brasileiro já influencia nas criações da Armani, um fato inédito da história da empresa.” A importância do Brasil nos resultados globais da Armani, e até mesmo da concepção das coleções, ficou explícita no início do ano passado. Brett, Patrícia e Michelle foram convidados a participar, na sede operacional do grupo, em Nova York, das reuniões que definem os estilos das coleções que serão expostas nas vitrines da marca em todo o mundo.
“Assim que o Brasil começou a entregar resultados e o mercado consumidor ganhou mais relevância, a operação brasileira conquistou voz dentro da companhia”, afirma Patrícia. “Hoje, o Brasil e o Reino Unido são os que mais inspiram coleções dentro da Armani Exchange.” Se o redirecionamento da estratégia brasileira de Giorgio Armani der certo, será mais um importante capítulo de sucesso na trajetória do empresário italiano. Em 2009, ele se afastou da administração da companhia para tratar uma grave hepatite. Não demorou muito para surgir propostas de compra da grife. “Não vou vender a minha empresa”, rebateu Armani. “Seria como vender seu filho único.” A resistência do empresário lhe rendeu ainda mais reputação na órbita empresarial.
Patrícia Gaia: a CEO da Armani Exchange (acima) planeja inaugurar 22 lojas nos próximos
cinco anos. Estilo brasileiro já influencia concepção de coleções da marca em todo o mundo.
“O modelo de negócios da Armani é um exemplo bem-sucedido de empresa que consegue manter sua marca sem se desgastar com as mudanças de estilos e de hábitos de consumo”, diz Julio Moreira, diretor da consultoria Top Brand. “Toda vez que Giorgio Armani atira no mercado da moda, costuma acertar.” O tiro de Giorgio Armani, desta vez, pode ser certeiro novamente. Segundo o estudo global da consultoria Bain & Company, chamado “Luxury Goods Worldwide Market Study”, o mercado de luxo na América Latina deve crescer 7% neste ano, puxado principalmente pelo Brasil, e atrás apenas dos incríveis 18% projetados para a China. Enquanto isso, na Europa e nos Estados Unidos, as vendas de produtos de luxo devem subir de 2% a 4%.
Os bastidores das negociações para a venda do grupo, naquela ocasião, nunca vieram a público, mas comenta-se que o grupo francês Louis Vuitton Moët Hennessy (LVHM), o maior conglomerado de empresas de luxo do mundo, era um dos interessados na compra da Armani. Por uma simples razão: enquanto a LVHM mantém seu plano de negócios ancorado em diversas marcas, a Armani é uma potência no mercado da moda tendo apenas uma marca como eixo central de suas operações – embora estampe seu logotipo em dezenas de produtos: de roupas, hotéis e chocolate a perfumes, óculos e celulares. “A maneira como Giorgio Armani construiu sua marca é fascinante por estar ancorada em um único pilar, o seu nome”, diz Carlos Ferreirinha, diretor da MCF Consultoria e Conhecimento.
Estratégia nacional: as três marcas da Armani no Brasil terão lojas de capitais
fora do eixo Rio-São Paulo, com destaque para o Centro-Oeste e Nordeste.
Com essa nova configuração híbrida, com lojas próprias e franqueadas, o horizonte para a Armani é promissor no País. A empresa não revela os detalhes do plano de expansão da marca, mas interlocutores ligados à matriz, em Milão, garantem que as lojas Giorgio Armani e Emporio Armani, que hoje possuem apenas quatro unidades no Brasil, deverão chegar a 15 nos próximos três anos, com inaugurações em capitais fora do eixo Rio-São Paulo. Já as oito unidades franqueadas da Armani Exchange poderão aumentar para 30 nos próximos cinco anos, segundo a CEO Patrícia Gaia. “É com esse número que estamos trabalhando”, afirma a empresária. “Há uma enorme demanda no mercado brasileiro de luxo que sustenta tal expansão, e vamos correr atrás desse objetivo.”
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