sábado, 15 de junho de 2013

A malha de estradas brasileiras

Um estudo exclusivo mostra que o país precisa fazer no mínimo mais 21 000 quilômetros de estradas duplicadas para dar competitividade à economia. O custo das obras: 250 bilhões de reais. O prazo de execução: oito anosCruzamento das vias Anhanguera e Bandeirantes, em São Paulo

São Paulo - Poucas horas antes do Dia D, em 6 de junho de 1944, o general Dwight “Ike” Eisenhower, comandante supremo das Forças Aliadas, em mensagem aos soldados que estavam prestes a desembarcar nas praias francesas para retomar a Europa de Hitler, disse: “Os olhos do mundo estão sobre vocês!”

Durante a campanha na Europa, que terminou no ano seguinte com a capitulação da Alemanha, os olhos de Eisenhower se voltaram para algo completamente distinto: as estradas alemãs. O general americano se impressionou com o tamanho e a qualidade do sistema rodoviário do inimigo, que permitia a Hitler deslocar com rapidez tanques e tropas.
Era a confirmação de uma ideia que havia muito ocupava a mente de Ike: não se faz um grande país sem boas estradas. Em 1919, ele tinha feito parte do comboio de 81 veículos do Exército americano que levou dois meses para atravessar os Estados Unidos de costa a costa, numa ação que tinha como objetivo denunciar a deficiência da malha rodoviária americana.
Por isso, quando se tornou o 34º presidente dos Estados Unidos, em 1953, uma das primeiras grandes iniciativas de Ike foi criar a Lei de Ajuda Federal às Estradas de 1956: um projeto que, de 1956 a 1992, dotou o país de 66 000 quilômetros de rodovias duplicadas — as chamadas autoestradas, mais ágeis e seguras do que as vias de pistas simples. Hoje, a rede americana de autoestradas cruza o país em todas as direções, somando um total de 75 200 quilômetros.
Enquanto os Estados Unidos montavam um dos maiores sistemas rodoviários do mundo, o Brasil pouco fez. Temos apenas 11 000 quilômetros de  estradas duplicadas, a maioria concentrada no centro-sul do país. Apenas o estado de São Paulo conta com uma densidade de autoestradas que se aproxima do caso americano.
Nove estados brasileiros não têm nenhum quilômetro sequer desse tipo de rodovia. No total, a malha brasileira é de 212 000 quilômetros de vias pavimentadas — quase um vigésimo da extensão americana, de 4,2 milhões.
Dotar o Brasil de uma infraestrutura do nível americano parece utópico — ainda mais contando com um governo que está embananado para levar a leilão um lote de 7 500 quilômetros de rodovias. Mas é possível tirar uma boa parte do atraso em tempo relativamente curto.
EXAME teve acesso a um estudo inédito da consultoria Bain&Company com uma proposta factível e que melhoraria, em muito, a situação do transporte no país. O estudo defende a duplicação de 21 000 quilômetros de rodovias já existentes. Isso aumentaria a extensão de estradas com duas pistas para 32 000 quilômetros. 
“Ainda é menos da metade da malha americana de autoestradas, mas já teríamos uma in­fraestrutura com qualidade mínima para atender a economia brasileira”, afirma Fernando Martins, sócio da Bain&Company e autor do estudo.
O custo do empreendimento é calculado em 250 bilhões de reais — um quarto do valor gasto para a execução do plano de Eisenhower. As obras poderiam, pelo menos no campo da teoria, ser concluídas em até oito anos — desde que não parem nos velhos entraves burocráticos nem na demora excessiva para a obtenção de licenças ambientais.Sendo mais realista, é razoável falar num prazo de 15 anos para a execução. Só para comparar: a China precisou de uma década para construir 2,5 milhões de quilômetros de estradas — com uma rede duplicada que equivale a oito vezes a nossa atual. Para driblar a ineficiência estatal, os 21 000 quilômetros de estradas seriam executados pela iniciativa privada.
É o mais indicado num país onde 87% das rodovias privadas são classificadas como boas ou ótimas, enquanto 66% das principais estradas públicas são consideradas ruins ou, no máximo, regulares. Segundo o estudo, 13 000 quilômetros poderiam ser privatizados na forma de concessões, gerando um investimento de 157 bilhões de reais, pagos pela cobrança de pedágios.
Nos trechos que passam por regiões menos desenvolvidas, o modelo adotado teria de ser o de parceria público-privada. O investimento nessa parte seria de 92 bilhões, dividido entre empresas e governo.
Ganho de produtividade
O efeito da melhoria do transporte rodoviário na economia seria expressivo. O aumento da taxa de investimentos previsto para o período de obras  é  de 0,9% ponto percentual por ano, e no produto interno bruto, de 1,25 ponto ao ano — um impulso precioso para um país que não tem conseguido crescer nem 3% ao ano.
As 100 maiores cidades brasileiras, entre elas 20 capitais, ganhariam ligação por rodovias duplicadas. “Capitais da Região Norte ficaram de fora porque seria caro incluí-las na proposta. Nesse caso,  estradas de pistas simples podem atender à demanda”, diz Martins.
Importante: o plano prevê que todas as rodovias próximas sejam ligadas por alças ou rodoa­néis, como ocorre nos Estados Unidos, evitando o percurso entre cidades. Quem já ficou parado no trânsito da marginal Tietê, em São Paulo, tentando passar de uma estrada a outra, sabe a economia de tempo — e de paciência — que isso representa.
A lógica da escolha das rodovias a ser duplicadas é óbvia. As prioritárias são os corredores para o transporte da produção e para o abastecimento das áreas­ mais povoadas. O Brasil tem nas rodovias o principal meio de escoamento do que produz. Quase dois terços das cargas são distribuídos por caminhões.
Nos Estados Unidos, a proporção não chega a 30%. Nesse cenário, seria de esperar que o Brasil investisse em estradas de qualidade. Nada disso. Além de pequena, a malha brasileira é notória pelos buracos e pelos traçados com curvas perigosas, causadores de acidentes, lentidão e desgaste nos veículos.
A empresa de transporte de passageiros Itapemirim comparou durante um ano os custos de trafegar com seus ônibus em rodovias com boas­ e más condições de asfalto. O resultado: estradas ruins aumentam os custos em quase 15%. De acordo com a escola de negócios Fundação Dom Cabral, o país perde a cada ano 80 bilhões de reais com a infraestrutura rodoviária capenga.O Brasil tem deficiência em rodovias, hidrovias e ferrovias, mas, se tivesse de priorizar investimentos, teríamos de começar pelas estradas”, diz Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Dom Cabral.
A pedido de EXAME, a Bain&­Com­pany fez uma simulação dos ganhos de produtividade no transporte de cargas entre Belém e São Paulo, rota quase obrigatória para as empresas da Zona Franca de Manaus que têm no Sudeste seu principal mercado ou usam portos da região para o comércio exterior.
Com a duplicação das rodovias Belém-Brasília e Brasília-São Paulo, haveria um ganho na velocidade média de 44 para 60 quilômetros por hora. A viagem, hoje feita em seis dias ao custo de 9 000 reais, passaria a ser feita em quatro dias, por 7 244 reais. A redução de custos compensa o gasto com pedágios, estimado em 696 reais.
“A economia de combustível e o desgaste menor de veículos, além do tempo livre que poderá ser utilizado para mais viagens, dão um ganho de produtividade de quase 12%”, afirma Martins, da Bain. Na verdade, o ganho pode ser maior.
“Em épocas de chuva, um caminhão leva até dez dias saindo de Belém para São Paulo”, diz Paulo Sarti, presidente da empresa de logística Penske na América do Sul. Para a produtora de eletrodomésticos Whirlpool, que tem fábrica em Manaus, os custos de frete chegam a 12% do custo final de um produto.
Nos Estados Unidos, os gastos da Whirlpool com frete não ultrapassam 3%. Culpa das estradas. Trazer um contêiner da China até Santos sai mais barato para a empresa do que levar uma carreta de Manaus para São Paulo — 8 000 ante 12 000 reais.
A proposta de criação de corredores novos atende um sonho de produtores de grãos do Centro-Oeste: acabar com a dependência dos portos do Sul. Hoje, como a saída pelo norte significa encarar estradas esburacadas e portos acanhados, a opção da maioria dos produtores é por enfrentar as filas nos distantes portos do Sul.
Quase 70% da exportação brasileira de soja, que em 2013 pode chegar a 38 milhões de toneladas, sai por Santos e Paranaguá. O volume gera um tráfego de 700 000 caminhões. “Se houvesse boas estradas rumo ao norte, certamente inverteríamos a matriz de escoamento”, diz Rodrigo Koelle, gerente de logística da Cargill.
Segundo a Aprosoja, associação que reúne produtores de Mato Grosso, o frete de Sorriso (MT) a Santos sai por 320 reais a tonelada. O produtor de Illinois, estado da região central dos Estados Unidos, paga 40 reais para levar o produto a Nova Orleans, no oceano Atlântico, e 70 reais até Oregon, no Pacífico — a um “pulo” da China, maior comprador de soja do mundo.
“Essa diferença é riqueza que o Brasil perde”, diz Carlos Fávaro, presidente da Aprosoja. Está na hora de melhorar as estradas — e parar de perder riqueza pelo caminho.
 Aqui no Pará a BR 316 todo dia fica engarrafado o transito na entrada do viaduto do Coqueiro e no entrocammento, o BRT projeto do falso médico Duciomar  ao que parece foi só para pagar divida para empreiteira Andrade Gutierrez, obra orçada em R$ 500,00 milhões, já gastou mais de R$ 100,00 milhões, passando cimento e quebrando cimento, agora o prefeito de Belém Zeraldo vai começa a dar dinheiro para as empreiteiras para continuarem passando cimento e quebrando cimento, enquanto poderiam asfaltar toda a avenida Augusto Montenegro, ou fazer elevados para circulação dos veiculos, ou projeto  importante seria o prolongamento da 1º de dezembro até a Alça Viaria onde poderiam trafegar os caminhões nos horários mais intensos, mas preferem manter a baixa produtividade da economia paraense que vai se arrastando com péssimos politicos de plantão.
Para muitos empreendedores, proteger as informações armazenadas em seussoftwares e computadores é um aspecto estratégico do negócio. Nem sempre, no entanto, eles cuidam do assunto como deveriam.

“Existe na maioria das empresas a preocupação de manter seguros os sistemas mais complexos”, diz Camillo Di Jorge, diretor da empresa de segurança digital Eset. “É comum, no entanto, deixar de lado problemas menores e que abrem brechas para invasores.”
Exame­ PME consultou empreendedores e especialistas para saber quais pontos básicos desegurança em TI merecem atenção. 
1 Plugar pen drives ou outros dispositivos

No ano passado, o engenheiro João Marcos Dalla Rosa, de 50 anos, dono da catarinense Real Estúdio, passou por três situações parecidas em que os computadores da empresa pararam de funcionar por um dia inteiro. A causa da paralisação, nos três casos, estava em arquivos contaminados por vírus que haviam se instalado no servidor da empresa, tornando os dados inacessíveis.
“Perdi informações sobre negociações com clientes e fornecedores porque os sistemas precisaram ser reinstalados do zero”, diz Dalla Rosa. Primeiro, ele pensou que alguns funcionários ti­vessem acessado arquivos inseguros durante o expediente, como joguinhos e músicas baixadas de sites inapropriados.
Depois, descobriu que os vírus vinham de um lugar até então insuspeito — os pen drives que os clientes traziam para a empresa. 
O negócio da Real Estúdio é imprimir estampas para que indústrias têxteis e con­fecções as apliquem em tecidos. Os clientes costumam entregar os desenhos das estampas em pen drives, que, em alguns casos, estão infectados. “Agora, deixamos um computador isolado da rede só para receber as estampas”, afirma Dalla Rosa. 
Para muitas empresas, proibir os funcionários e clientes de plugar dispositivos USB nas redes não é uma opção — embora armazenar os arquivos na internet possa ser uma alternativa, o pen drive ainda é uma opção prática para lidar com o leva e traz de documentos mais pesados.
O que fazer? “Atualmente, há pen drives com suporte a criptografia e sensor de biometria que identificam se o aparelho está autorizado a ser plugado na rede”, afirma Jefferson D’Addario, professor de gestão e tecnologia da Faculdade Impacta. “Do lado da empresa, softwares de segurança fazem uma varredura instantânea para detectar eventuais arquivos infectados.”2 Usar versões desatualizadasde softwares
É difícil passar algum tempo no computador sem que apareçam várias janelinhas sugerindo instalar novas versões de aplicativos. A dificuldade é saber quais atualizações precisam ser instaladas imediatamente e quais podem ser deixadas para depois. 
Numa pesquisa recente feita com usuários do programa de telefonia Skype, 40% disseram que não atualizam o software quando é solicitado pela primeira vez — metade respondeu que precisava ser alertado de três a cinco vezes até se convencer de que era importante instalar a nova versão do programa.
“O uso de versões defasadas pode abrir brechas de segurança, facilitar a entrada de vírus e o acesso a documentos sigilosos”, diz Mariano Sumrell, diretor da consultoria de segurança AVG Brasil. “O empreendedor não pode esperar que os funcionários baixem as atualizações por conta própria.”
Para escritórios com mais de 15 computadores em rede, os especialistas recomendam usar sistemas conhecidos, como gerenciadores de patchs, que agrupam arquivos de diferentes softwares e aplicam as atualizações de forma automática em todas as máquinas.
3 Criar senhas fáceis de descobrir
Os hackers constantemente criam novas estratégias de ataque e softwares para descobrir senhas. Os programas mais conhecidos testam nomes próprios. Outros usam palavras do dicionário ou títulos de filmes e nome de personagens famosos.
Hackers que têm como alvo invadir os sistemas de determinada empresa ou site desenvolvem programas que adotam o método conhecido como “força bruta”, que testa milhões de combinações de letras e números possíveis até descobrir a correta.“Justamente porque é impossível criar senhas totalmente impenetráveis, é importante que os funcionários sejam obrigados a criar combinações de caracteres que não sejam óbvias”, diz Sérgio Dias, especialista em segurança da americana Symantec. “O ideal é mesclar números e símbolos com letras maiúsculas e minúsculas.” 
Um problema comum em muitas empresas é o compartilhamento de senhas. “Um mesmo código usado por duas pessoas já é quase uma senha pública e perde sua função”, afirma Dias. O uso de login individual permite à empresa controlar exatamente quem está acessando o quê.
4 Contentar-se com o antivírus
Com tantas novas ameaças surgindo a todo o momento, é impossível uma empresa se proteger somente com programas de anti­vírus.
Os especialistas recomendam que os empreen­dedores contratem um sistema de firewall (“barreira corta-fogo”, na tradução do inglês), que permite identificar e blo­quear dados suspeitos ainda na entrada do servidor de internet — antes, portanto, que eles cheguem aos computadores e às caixas de e-mail dos funcionários.
“Não é uma boa ideia deixar o usuário decidir se deve ou não confiar em um anexo recebido por e-mail”, diz Mariano Sumrell, da AVG Brasil. “Ao bloquear o conteúdo suspeito logo na entrada do servidor, o risco de alguém abrir um arquivo infectado cai drasticamente.” 
Além dos vírus, bons firewalls devem ser capazes de barrar a entrada de uma verdadeira fauna de softwares intrusos, como spywares, trojans e keyloggers — programinhas es­piões que permitem monitorar as atividades realizadas num computador e até gravar tudo o que é digitado e enviar os dados com data e hora por e-mail.
Eles podem permanecer invisíveis por um longo período, sem que os usuários das máquinas invadidas percebam. “Introduzir um software espião num servidor da empresa e replicá-lo em vários PCs é o suficiente para comprometer informações sigilosas do negócio”, diz Sumrell. 
5 Imprimir documentos
As impressoras são uma das principais fontes de vazamento de dados — e talvez a mais insuspeita. Poucos se dão conta de que os modelos mais recentes desse tipo de equipamento são verdadeiros centros de processamento de informações, muitas vezes equipados com HDs próprios e capacidade de transferir dados para outros aparelhos. “Cada imagem digitalizada, impressa ou reencaminhada por e-mail pode ser armazenada para sempre na memória de uma impressora”, afirma Camillo Di Jorge, diretor da empresa de segurança Eset.
 “Com base no tipo de informação que o empreendedor lida no dia a dia, é interessante configurar a limpeza do HD das impressoras regularmente.” Em qualquer empresa, grande ou pequena, também é comum encontrar documentos esquecidos nas impressoras — como acontece quando os funcionários mandam imprimir e deixam de buscar.
Uma sugestão dos especialistas é nomear um responsável por fazer uma ronda de tempos em tempos — uma ou duas vezes ao dia, por exemplo — à caça de documentos largados nas impressoras. “Imagine o que pode acontecer caso alguém mal-intencionado passe por ali e veja dados financeiros, planilhas de RH, fichas de clientes e contratos sigilosos”, diz Di Jorge.
6 Não fazer backups suficientes
Manter os backups automatizados é um hábito bastante raro no mundo dos pequenos e médios negócios. De acordo com estimativas da empresa de segurança Computer Associates, somente 25% das empresas têm processos organizados para prevenir a perda de informações. A maioria delas faz backups manuais e apenas de vez em quando verifica se as cópias foram feitas direito — e acha que está tudo bem. 
Em 2007, o engenheiro Alan Pakes, de 35 anos, sócio da empresa de intercâmbio Invista em Você, fazia backup de algumas informações do negócio, como lista de clientes e dados financeiros, em um computador pessoal. Quando o computador quebrou, Pakes se desesperou.
“Recuperei parte do conteúdo, mas perdi informações mais antigas que só estavam nele”, diz. Quando a computação em nuvem começou a se popularizar, após algum tempo, Pakes decidiu armazenar os arquivos imprescindíveis na internet.
O backup na nuvem pode ser feito automaticamente e sem a preocupação do espaço em disco acabar no meio da operação”, diz Pakes. “Não corro mais o risco de perder documentos.” Muitos donos de pequenas e médias empresas ainda têm receio de colocar alguns tipos de informação na nuvem — dados financeiros, por exemplo.
“Os principais cuidados a ser tomados para manter tudo seguro é contratar fornecedores de confiança, criar senhas complexas e dividir o acesso aos arquivos por níveis de responsabilidade de cada funcionário”, afirma Felipe Cataldi, diretor da desenvolvedora de softwares na nuvem BetaLabs.
De acordo com uma pesquisa recente da Symantec, 65% dos donos de pequenas e médias empresas já perderam informações importantes por não realizar back­ups regularmente. O backup, quando é feito do jeito certo, ajuda o empreendedor a se prevenir caso os computadores da empresa sofram problemas que inviabilizam seu uso, como desgaste do HD, quedas, incêndios, alagamentos e roubos.

As empresas nas redes sociais

Nenhuma empresa no mundo investe mais em publicidade que a fabricante americana de bens de consumo Proc­ter& Gamble, dona de uma verba de 10 bilhões de dólares por ano dedicados à promoção de marcas como as lâminas de barbear Gillette ou as fraldas Pampers em todo o mundo.

Causou impacto, portanto, quando seus executivos anunciaram a intenção de cortar 1 bilhão de dólares desse investimento ao longo de 2012 — tudo isso, em teoria, sem prejudicar a visibilidade de seus produtos. Nos planos, a solução mágica estava no investimento em redes sociais, considerado um canal em ascensão e com um custo mais baixo.
Na prática, porém, a conta não foi tão simples. Em maio, a empresa informou que o investimento não foi reduzido. Ou seja, o orçamento de publicidade ficou no mesmo patamar do ano anterior, de 10 bilhões de dólares. Ao direcionar parte da verba para as redes sociais, porém, a empresa perdeu espaço nas mídias tradicionais.
Esse espaço acabou nas mãos de rivais como a fabricante de cosméticos L’Oréal, que investiu 6,8 bilhões de dólares em 2012, 22% mais que no ano anterior.
Numa conferência com analistas, executivos da empresa declararam a intenção de reforçar a presença nas mídias mais consolidadas, a ponto de distribuir até mais amostras porta a porta. Em meio à reavaliação, a companhia anunciou o retorno de Alan G. Lafley, que havia se aposentado em 2009, ao posto de presidente mundial.
São dois os motivos por trás da reviravolta na estratégia. Por um lado, uma realidade se impôs diante da meta da Procter&Gamble: o crescente custo dos anúncios nas redes sociais. Nos últimos três anos, o preço quase dobrou no caso do Facebook e do Twitter, duas das mais populares redes sociais.
Por outro, ainda não está claro se vale a pena pagar mais por isso. Segundo uma pesquisa realizada pela consultoria americana Adobe, a maioria dos consumidores prefere ver anúncios em mídias tradicionais. Apenas 3% dizem gostar de anúncios nas redes sociais.
Nos primórdios das redes sociais — e lá se vão apenas cinco anos —, as empresas, de fato, corriam menos risco ao desbravar um campo fértil para estratégias espartanas. Aos poucos, cliques e compartilhamentos passaram a exigir cada vez mais dinheiro para atingir o mesmo público — ou mesmo menos gente. 
No caso do Facebook, por exemplo, houve uma alteração importante nas regras do jogo em outubro. Até então, quando uma empresa que tinha uma página na rede direcionava uma publicação para seus fãs, cerca de 25% deles a recebiam em sua linha de notícias. Com a mudança, esse percentual caiu para 5%, numa tentativa de incentivar a migração para anúncios pagos.
A nova regra restringiu a escala até mesmo de quem multiplicou sua base de clientes nos últimos anos. No caso da Ambev, a marca Guaraná tinha 4 milhões de inscritos em 2011 e atingia de graça 1 milhão de pessoas. Hoje, sua base triplicou para 12 milhões — é a página corporativa mais popular do Facebook no país.Mas consegue chegar a apenas 600 000 deles sem pagar. Em contrapartida, hoje é possível escolher o perfil de quem vai receber cada mensagem. “Acabou a fase em que podíamos investir pouco e ter muito retorno”, afirma Leonardo Mongo, gerente de mídia da Ambev.

“Temos de compensar o investimento com a segmentação do público.” Hoje, a empresa direciona suas campanhas para determinados públicos de acordo com o status de relacionamento, idade e região onde mora. 
Investir na segmentação passa a ser inevitável também para chamar a atenção entre os concorrentes. A fabricante de cervejas Heineken, com 3 milhões de fãs brasileiros em seu perfil global no Facebook, aumentou 20% seu investimento publicitário nas redes sociais. Toda sexta-feira, a empresa envia anúncios para homens e mulheres de 23 a 28 anos, das classes A e B, que costumam frequentar festas e shows.­
Para se destacar entre as concorrentes, a operadora de telefonia celular Claro teve de aderir a um artifício. Desde 2010, a empresa mantém o perfil corporativo no Twitter mais seguido do Brasil, o @ClaroRonaldo, com 3,5 milhões de seguidores.
Nele, o ex-jogador de futebol ajuda a promover produtos e ações da empresa. Neste ano, começou a comprar o direito de ter mais visibilidade para os comentários, com o Promoted Trends (ou “tendência promovida”, numa tradução livre), que coloca uma mensagem no topo dos assuntos mais comentados do dia. 
Novo formato
Outra seara que não exigia investimentos — a inserção de vídeos — representa uma nova fronteira para anúncios pagos. Por enquanto, há inserções gratuitas, como as do aplicativo “vine”, que permite a inclusão de vídeos no Twitter. Mas deve durar pouco.
No mercado americano, especula-se que até julho o Facebook deve preparar um novo modelo de anúncio com vídeos de 15 segundos a ser exibidos na linha de notícias dos usuá­rios. O custo para os anunciantes poderia chegar a 1 milhão de dólares.
O comercial mais caro da TV americana acontece no jogo final do campeonato de futebol americano, o Super Bowl, e chegou a 4 milhões de dólares por 30 segundos neste ano. Executivos do Facebook têm repetido o mantra de que a audiência da rede, com 1 bilhão de usuá­rios no mundo, equivale a três Super Bowls.
Críticos apontam um exagero — estima-se que apenas metade dessa base acesse a rede com frequência. Também há questionamentos sobre o aumento da base de usuários do Facebook em países como os Estados Unidos. Apenas em março deste ano, o Facebook sofreu uma baixa de 6 milhões de perfis no país. Até agora, porém, limitações como essa não contiveram a escala ascendente dos preços online.
Ao longo das duas últimas décadas, o empresário paulistano Érico Ferreira se tornou um grande especialista em “Pachecos”. É assim que vendedores de carros usados se referem àquelas velharias com mais de 20 anos de idade — o termo é formado pelas primeiras sílabas de Passat, Chevette e Corcel. Ferreira vive de Pachecos.

Em 1994, ele fundou a Omni, instituição especializada em financiar esse tipo de automóvel. É um mercado de altíssimo risco. A maioria de seus clientes ganha menos de três salários mínimos, não tem trabalho fixo nem comprovação de renda. Mas, como costuma acontecer em segmentos inóspitos do mercado, a concorrência é quase nenhuma.
Até agora, a combinação vem dando dinheiro para a Omni. Nos últimos cinco anos, Ferreira lucrou 100 milhões de reais. Sua rentabilidade, uma das mais altas do mercado, ficou em 17% em 2012. 
Emprestar dinheiro para quem quer comprar carro tem sido um pesadelo para os bancos. O Votorantim teve um prejuízo recorde por causa de sua agressiva atuação nesse segmento. No Itaú, a inadimplência dobrou. Os bancos Morada e Schahin quase quebraram.
Quem não saiu do mercado reduziu drasticamente o volume de crédito e passou a exigir mais garantias para emprestar. A rentabilidade da Omni também caiu, mas a financeira continua no azul e crescendo — a concessão de empréstimos aumentou 30% em 12 meses. 
A receita da Omni tem sido fugir da concorrência. Em vez de disputar espaço nas grandes concessionárias, onde os bancos costumam competir para financiar carros novos, a Omni atua em pequenas lojas nas periferias das grandes cidades ou no interior — onde o mercado de carros usados costuma ser mais ativo.
Entre os grandes bancos, só o Santander opera de forma parecida. A Omni faz cerca de 300 empréstimos por dia. Os carros que mais financia são os modelos antigos de Gol e Palio, além de Fusca, Monza e Variant. Também empresta para quem quer comprar caminhões velhos.  Em geral, seus clientes — pedreiros, pintores e caminhoneiros — tomam cerca de 8 000 reais de crédito para pagar em cinco anos.
Isso, claro, quando pagam. A inadimplência, de 10%, é quase o dobro da média do mercado. Se um cliente dá o calote e a Omni retoma o veículo dado em garantia, seu valor de revenda costuma ser baixíssimo: quem deixa de pagar o financiamento geralmente já desistiu de pagar impostos e multas e, claro, não está nem aí para manutenção.

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