domingo, 2 de junho de 2013

Casa com mais classe


Não basta ter a mansão dos sonhos, é preciso viver com sofisticação. E os brasileiros classe A têm buscado nos designers nacionais a solução para um décor mais requintado.

Nunca na história deste País se viu e vendeu tantos móveis de design nacional quanto agora. Nas mostras de decoração, eles são o toque de requinte. Nas lojas especializadas, são a turbina que impulsiona um crescimento nas vendas acima dos 20% ao ano desde o final da década passada. Ao preço, muitas vezes, de um carro médio zero quilômetro, optar por uma Poltrona Mole, do designer Sérgio Rodrigues, ou por uma peça assinada por Oscar Niemeyer – ambas na faixa dos R$ 50 mil –, é o desejo do momento para aqueles que não se contentam “apenas” com a mansão dos sonhos: é preciso recheá-la de arte e, sobretudo, de design. 
 
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Chique: Priscila Lima, Raquel Silveira e Louis de Charbonnières, o trio da Mostra Black
aposta no requinte dos ambientes
 
É a palavra da moda entre os decoradores que atendem a classe A, uma turma que, segundo estudo do Ibope Inteligência, deve desembolsar R$ 1,3 bilhão com a casa em 2013. Grande parte desta fortuna será investida em mobiliário de grife, desde clássicos do design até criações mais recentes. É o caso da Poltrona Banquete, aquela com bichos de pelúcia, dos irmãos Campana. A peça ganhou status de obra de arte e valorizou 700% em pouco mais de uma década, chegando a custar R$ 160 mil. Em comparação, no mesmo período, o CDI rendeu módicos 310%. Em suma, adquirir um móvel assinado e made in Brazil não se resume mais ao assunto decoração. Trata-se de um valioso investimento para quem pode pagar, com boa taxa de retorno, já que tem forte apelo nos leilões pelo mundo afora.
 
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Design também é cultura: Angelo Derenze, da Casa Cor, trouxe para esta edição do evento
parte da coleção de móveis históricos da Fiesp, em exposição no MoMA de Nova York.
 
“O brasileiro tem viajado mais, está mais bem informado e tem redescoberto o design nacional”, afirma Lissa Carmona, CEO da Etel Interiores, marca de decoração do mercado high-end que detém os direitos de venda do mobiliário criado por Anna Maria e Oscar Niemeyer. Em sua loja, cujo faturamento aumentou 28% em 2012, a estrela é a Chaise Longue Rio, assinada pelo falecido arquiteto carioca e que traz etiqueta no valor de R$ 47 mil. Cada peça demora cerca de três meses para ficar pronta e segue os padrões de construção determinados pela Fundação Oscar Niemeyer. “São peças que tratamos como obras de arte”, diz Carmona. 
 
Em outra conhecida casa de décor de luxo, a DPot, seu dono, Sérgio Buchpiguel, reconhece que o consumidor interno está mais maduro para entender o valor dos móveis assinados, sobretudo os do período modernista, dos anos 50 e 60.“Acho que durante a ditadura, com a interrupção da liberdade de expressão, o design ficou adormecido”, diz o empresário, que vende a Poltrona Mole, de Sérgio Rodrigues, por R$ 49 mil. Na hora que o País se abriu, o próprio design ganhou espaço, primeiro lá fora e depois aqui.” Buchpiguel apostou alto na popularização do tema e criou, em 2012, o programa Casa Brasileira, no canal pago GNT. 
 
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Fruto: bicicletas customizadas por decoradores da Black, como a de José Marton, serão leiloadas
 
“A ideia era discutir a decoração nacional, com sua bossa, sua mistura de estilos, que a torna tão interessante”, afirma. Deu certo. Hoje, a atração semanal está entre as cinco mais vistas da emissora.Mais pop, o design contemporâneo também tem conquistado audiência e consumidores. Esse fenômeno tem sustentado o sucesso dos irmãos Humberto e Fernando Campana. Criativas e irreverentes, suas criações ganharam o mundo. “A carreira internacional deles ajudou. Além disso, uma peça dos Campana tem alto valor em leilões”, afirma Sônia Diniz, dona da FirmaCasa, em São Paulo, que comercializa os móveis da dupla no País.
 
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Maturidade: para Sérgio Buchpiguel, da DPot, o aumento nas vendas de móveis
assinados, como esta a Poltrona Mole, de Sérgio Rodrigues, é fruto
de um consumidor mais maduro 
 
MOSTRAS O interesse crescente dos brasileiros pelo assunto é verificado também na multiplicação das exposições pelo País. Só na última semana, São Paulo viu abrir as portas as duas maiores e mais importantes delas, a Casa Cor e a Mostra Black. A primeira, criada há 27 anos, é responsável por democratizar o acesso dos consumidores ao design além dos museus. Angelo Derenze, presidente da Casa Cor, espera que 200 mil pessoas visitem o seu evento, que, nesta edição, traz um diferencial: uma exposição de 17 móveis históricos do acervo da Fiesp, que ficam expostas no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). 
 
“É um lado cultural do evento”, afirma Derenze. “Muito além das tendências, teremos esse caráter educacional, onde as pessoas poderão degustar desse acervo tão bem cuidado.” A coleção foi adquirida junto aos americanos pelo então diretor de patrimônio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Mindlin. “Ele foi um visionário. Já naquela época queria mostrar aos empresários a importância do design para a indústria”, diz Fernando Graber, diretor do departamento de ação cultural da entidade. Na Mostra Black, a proposta é traduzir esse desejo pelo design em espaços sofisticados. 
 
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Direito de imagem: Lissa Carmona, da Etel Interiores, é a responsável por reproduzir o mobiliário criado
por Oscar Niemeyer, como a Chaise Rio. "Trato os móveis dele como peças de arte", diz
 
“Acredito que existe, sim, um estilo brasileiro de morar com requinte, longe daquele exótico demais e que pode ser facilmente absorvido pelo mundo”, afirma Raquel Silveira, criadora do evento. Ao lado dos sócios Priscila Lima e Louis de Charbonnières, ela planeja a consolidação da marca Black, a começar pelas bicicletas que lançou nesta edição – seis delas, por sinal, customizadas por designers da mostra, que serão leiloadas ao final, com renda revertida para ONGs sociais. “Pensamos também em linhas de móveis e utensílios para um futuro próximo”, diz Priscila. 
 
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Pelúcia valiosa: o preço da Poltrona Banquete, dos Irmãos Campana, aumentou 700% em 11 anos
 
Outro destaque é a adição de talentos regionais entre os decoradores, como o alagoano Osvaldo Tenório, o curitibano Jayme Bernardo e a ribeirão-pretense Cândida Tabet. “Com isso, crescemos em qualidade, que é o que nos importa”, afirma Raquel. Elitizada, com ingressos a R$ 100 e ocupando os cinco últimos andares do shopping JK Iguatemi na capital paulista, a mostra atrai público qualificado – e marcas interessadas nele, como a italiana Maserati, que expõe um carro de sonho logo na entrada. “Mais do que tudo, montamos o evento com um acabamento melhor do que muita casa por aí. Isso faz a diferença”, afirma Louis de Charbonnières.
 
 

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